domingo, 15 de janeiro de 2012

Ateofobia e suas consequências

Olá a todos, saudações. O assunto sobre o qual resolvi escrever hoje é bastante delicado. O post é ao mesmo tempo um desabafo e um protesto. Não escondo de ninguém (que me questiona) o meu posicionamento a respeito das religiões e o meu ponto de vista sobre as mesmas. Não tenho problemas, atualmente, para me declarar ateu. Mas para muitos isso não é fácil.

Todos os ateus e ateias, sem exceção, já sofreram algum tipo de preconceito quando pessoas religiosas de seu convívio ficaram sabendo sobre o seu posicionamento. Não são todos os religiosos que possuem aversão a ateus, mas a maioria expressa algum tipo de reação indesejada quando se depara com um de nós (especialmente os mais conservadores e tradicionalistas).



Eu me descobri ateu antes mesmo de saber do que se tratava. Lá pelos meus 14 anos comecei a questionar de forma mais incisiva os dogmas e costumes religiosos. Aos 16 anos, me revelei ateu pela primeira vez (uma garota já me perguntou se eu era agnóstico, respondi sem pensar: "sim"). Hoje, com 20 anos, já sou um ateu convicto, certo de que é um posicionamento válido. Nunca fui educado sob a religião. Eu não sou batizado, recusei o batismo pois não queria fazer os procedimentos inerentes à primeira comunhão (achava um saco, honestamente). Minha mãe não esboçou nenhum tipo de sentimento negativo, pelo contrário, foi bastante liberal. Sempre fui muito "investigativo" a respeito das coisas que me rodeavam, nunca aceitei nenhum tipo de imposição sem que soubesse o real motivo para tal. Da mesma forma aconteceu com o cristianismo, no meu caso. Não acho justo ensinar uma criança desde cedo a ter uma religião. Os pais devem ensinar os pequenos a serem questionadores, a exigirem provas o tempo todo. Se ela optar por ser religiosa, quando conseguir entender os prós e contras de se ter uma crença, a escolha será exclusivamente dela.

A grande maioria dos teístas tende a "demonizar" qualquer tipo de expressão anti-religiosa, anti-clerical ou laica. Associam logo o ateísmo ao satanismo (que não é a mesma coisa que luciferianismo, diga-se de passagem). Ateísmo, por definição, é a ausência de crença em divindades. Para evitar controvérsias, vou logo dizendo que não se resume apenas a isso. Como diria uma antiga máxima: "reunir ateus é a mesma coisa que arrebanhar gatos". A frase sintetiza a ideia de que o ateísmo não é algo uniforme. Cada um vê o significado de forma diferente. No meu caso, suponho que se aplique à maioria dos ateus, é que não creio em quaisquer divindades cultuadas pelo ser humano por não haverem evidências que sustentem a existência delas. Evidências essas que devem ser verificáveis e passíveis de análise crítica e criteriosa, seguindo o tão famoso método científico.

MORAL


Um dos pontos principais defendidos por muitos religiosos fundamentalistas é que moralidade é um produto divino. Sem crenças, sem moral. Da mesma forma que podem existir cristãos assassinos, podem existir ateus assassinos, simples. Moral é um constructo social, criado com o propósito de refinar as relações sociais humanas. Diferentemente de controle social, a moral é um mecanismo utilizado de comum acordo entre as pessoas. Até os outros animais, ditos irracionais, podem se relacionar de forma harmoniosa, de maneira a não interferirem na individualidade do outro membro do grupo. Isso também é moral. A moralidade surgiu nas primeiras tribos de Homo sapiens, onde haviam regras estabelecidas para que houvesse uma boa convivência. Converse com um antropólogo ou sociólogo e logo entenderá.

Saindo do campo da moral, já posso começar a falar mais abertamente sobre outros pontos que surgirem ao longo da minha escrita. É impossível associar a falta de crença em algum deus à falta de escrúpulos. Não é lógico associar os males da humanidade ao ateísmo. Estatísticas recentes demonstram que o número de ateus declarados nos últimos tempos tem crescido timidamente, mas ainda não ultrapassa os 14%. Portanto, não faz sentido dizer que a minoria da população mundial é responsável por todos os estupros, homicídios, furtos e ataques terroristas que acontecem por aí. A maioria dos habitantes deste planetinha, logicamente, é teísta.

Dados estatísticos referentes ao ateísmo em algumas partes do mundo: http://odetriunfante.wordpress.com/2009/11/01/as-estatisticas-do-ateismo-em-2008/

Sobre a tendência crescente de ateísmo declarado:
http://ateusdobrasil.com.br/t/estatisticas/

Agora, uma outra questão necessária é a seguinte: os ateus e ateias precisam "sair do armário". Tomamos emprestado o termo do movimento LGBT, que se faz útil nesse contexto, para estimular as declarações abertas de ateísmo. Muitos se sentem incomodados e até sentem medo de expor seu ponto de vista abertamente, temendo represálias. É preciso ser honesto e sincero, a verdade é única e valiosa, por mais dolorosa que possa ser, por mais reações contrárias que possam surgir. Declarar o seu ateísmo de forma sincera faz com que o preconceito (pré-conceito, pré-julgamento) se recolha. A maioria de nós ateus, tirando os mais radicais, não vê problemas na crença dos outros. A recíproca deveria ser verdadeira.

Debater religião também não deveria ser um tabu. Muitos são os religiosos abertos a debate, desde que saudável e cordial. A religião parece viver enclausurada e protegida sob uma redoma de cristal frágil, prestes a se quebrar em mil pedaços. A analogia se encaixa perfeitamente no contexto.

Nós ateus não somos odiosos, não queremos banir as pessoas religiosas da sociedade, não pretendemos instaurar uma "ateocracia". Apenas queremos ter o direito de questionar os dogmas e os impropérios da religião de forma racional e crítica. Apenas queremos ter o direito de expressar o nosso ateísmo livremente, sem estereótipos. Ateus não são demônios, não comem criancinhas, não são perversos, nem malignos. Nós somos de fato, "livres pensadores", "céticos", "irreligiosos". Somos libertários e apenas queremos igualdade para todos.

O "A" Escarlate, um dos símbolos representativos do ateísmo

Espero ter sido a "voz" de alguns ateus amedrontados. Meu sonho, ainda que utópico, é que hajam mais debates cordiais e pacíficos, sem a típica belicosidade extremista. Respeito é bom para todos.

Um abraço.

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