quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Ética em Saúde e Bioética

Existe um forte paradigma a ser trabalhado, especialmente na área da saúde: a Ética. Determinados valores vigentes não podem ser ignorados e a prática profissional deve estar aliada a eles, em prol da preservação da integridade humana. O profissional, ao lidar com a vida, deve ter conhecimento sobre alguns princípios a serem levados em consideração.

Conceitos

ÉTICA é derivada da palavra grega Éthos (também Éthica), que possui dois significados distintos e que interagem entre si. Um destes significados deu origem ao termo latino Morale (ou Moralis), sendo utilizado para fazer referência aos costumes de uma determinada sociedade. Etimologicamente, derivam do mesmo princípio, porém possuem empregos diferentes. A ética é um sistema permanente e característico, enquanto a moral é construída e se refere diretamente à conduta dos indivíduos. A moral é um subproduto da ética, por definição.

BIOÉTICA é um conceito surgido e amplamente difundido a partir da década de 70, que refere-se à ética aplicada à vida e à manutenção da mesma. Ao aplicar a bioética na prática, devemos levar em consideração os quatro princípios na qual ela se sustenta.

Os quatro princípios básicos da Bioética
Na não maleficência, parte-se do pressuposto de que não se deve causar males ou danos ao indivíduo, preservando assim a sua integridade física e mental; A beneficência se baseia na obrigação moral de agir em prol do benefício do outro; O respeito à autonomia versa sobre a preservação da liberdade individual e do direito de ir e vir inerente; Por fim, o princípio da Justiça, que está relacionado diretamente à equidade e à distribuição de recursos humanos e materiais de forma igualitária a todos os indivíduos.

ÉTICA MÉDICA é um termo correlato e um componente da bioética, sendo empregado no contexto da prática humanística e curativa da Medicina e de áreas afins, as Ciências da Saúde (Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, etc.). Ética Médica, por sua vez, está ligada à Deontologia. Ver link: Código Brasileiro de Deontologia Médica.

Legislação na Área da Saúde


Existem três conceitos norteadores para a boa prática, por assim dizer, do profissional de Saúde. Lidar com as diferentes interfaces do ser humano requer um rigor e um criticismo maiores, pois a vida necessita de cuidados mais aprimorados e específicos para a sua manutenção.

Exemplo:
O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem

CAPÍTULO I, SEÇÃO I - Das Relações com a Pessoa, Família e Coletividade;
Responsabilidade e Deveres: Art. 12 - Assegurar à pessoa, família e coletividade assistência de Enfermagem Livre de danos decorrentes de imperícia, negligência e imprudência

IMPERÍCIA: Ocorre quando o profissional apresenta despreparo ou deficiência de conhecimentos técnicos e específicos, fundamentais para sua prática;

IMPRUDÊNCIA: Resultado da imprevisão do agente em relação às consequências de seus atos. Ocorre quando o profissional age de forma deliberada sem avaliar previamente o resultado que sua ação poderá acarretar ou quando o mesmo age de forma precipitada e sem cautela;

NEGLIGÊNCIA: Quando há falta de cuidado ou precaução por parte do profissional e também por omissão do mesmo.

A problemática envolvendo a Ética nas pesquisas científicas: Polêmicas e controvérsias
Devido a uma série de questões jurídicas, a Bioética encontra diversos impasses ao longo do caminho. Os debates envolvendo pesquisas de interesse médico e farmacêutico se constituem no principal desafio para a realização plena das mesmas.

Tópicos Importantes:

ABORTO & PESQUISA COM CÉLULAS-TRONCO
Estabelecer quando se dá o início da vida humana e até que ponto da gestação é possível interrompê-la (infanticídio versus aborto), com o auxílio de ciências como a Embriologia e a Genética Humana.

ENGENHARIA GENÉTICA & TERAPIA GÊNICA
Planejamento familiar, prevenção da reincidência de doenças genéticas ao longo das gerações.


CLONAGEM HUMANA, TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS & FERTILIZAÇÃO IN VITRO
Estabelecer critérios e parâmetros para a produção de clones humanos, até mesmo de órgãos humanos para a realização de transplantes.
Técnicas de reprodução assistida e inseminação artificial.
Marco histórico: Nascimento de Louise Brown, em 1978, o primeiro "bebê de proveta".


EUTANÁSIA, MORTE ENCEFÁLICA & SUICÍDIO ASSISTIDO
Definir o conceito de morte e saber até que ponto é juridicamente ético permitir tais práticas.

TESTES EM HUMANOS, EM ANIMAIS E A SENCIÊNCIA
A interferência dos conselhos de ética em pesquisa.

Dentre outros tópicos que estão em voga atualmente.


REFERÊNCIAS
BOCATTO, M. A. Importância da Bioética. Genética na Escola. Ribeirão Preto: n.2, v.2, p.11-14, 2007.

GOLDIM, J. R. Ética. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/bioetica/etica.htm>. Acesso em: 15 ago. 2012.

HECK, J. N. Bioética: Contexto histórico, desafios e responsabilidade. Ethic@. Florianópolis: n.2, v.4, p.123-139, dez. 2005.

LOCH, J. A. Princípios da Bioética. In: Uma Introdução à Bioética. n.73, p.12-19, 2002.

OLIVEIRA, V. S.; PAULO, D. Negligência, imprudência e imperícia: Cliente x Enfermagem.

Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem.

Dicionários Priberam e Aurélio.

Links Úteis:
Bioética (InfoEscola) http://www.infoescola.com/medicina/bioetica/
Código Brasileiro de Deontologia Médica: http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/904.pdf

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Tabagismo: da substância ao tratamento


Olá, como vai? Depois de alguns meses sem postagens, resolvi abordar um assunto com o qual trabalho: o tabagismo. Irei abordar os aspectos clínicos e psíquicos inerentes ao tabagismo sob a ótica assistencial.

Segundo estatísticas da Organização Mundial de Saúde, estima-se cerca de um terço da população adulta mundial seja fumante.


O TABAGISMO

Caracteriza-se pelo consumo de tabaco e pela consequente dependência física da nicotina, substância essa considerada a principal responsável por causar a adição ao tabaco, além de ser altamente carcinogênica. Critérios Diagnósticos: Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV).


O Teste de Fagerstrom


Ferramenta utilizada para avaliar o grau de dependência ao tabaco.

 

Aspectos Clínicos relacionados ao Tabagismo

O hábito de fumar promove redução da função respiratória e da frequência cardíaca;

Sinais e Sintomas Tristeza, apatia, insônia ou hipersonia (excesso de sono), irritabilidade, ansiedade, frustração, raiva, cefaleia, aumento da tosse*, dificuldade para se concentrar, dentre outros;

Fissura para consumir novamente.

*A tosse é justificada, dentre outros fatores, pela destruição das células ciliadas da traqueia. Tais células são as responsáveis por filtrar e reter as impurezas que aspiramos através do trato respiratório.

 
O TABACO 
Extraído das folhas de plantas do gênero Nicotiana

Composto formado por várias substâncias, sendo que a maioria delas é nociva ao organismo. A fumaça do cigarro contém mais de 4 000 substâncias. Seus constituintes principais são:

 

Nicotina Um alcaloide que age sobre os receptores nicotínicos de acetilcolina. Após inalada, a nicotina é rapidamente absorvida pela mucosa pulmonar e em seguida atinge o Sistema Nervoso Central. Possui meia-vida de 2 horas. Tanto ela quanto seus metabólitos são eliminados na urina.


Metais Pesados Chumbo (Pb), Níquel (Ni), Cádmio (Cd), outros.


Compostos Orgânicos Aminas, Aldeídos, Cetonas, Hidrocarbonetos, por exemplo.


Alcatrão Composto por várias substâncias, dentre elas: Nitrogênio (N), Oxigênio (O), Hidrogênio (H), Monóxido (CO), Dióxido de Carbono (CO2) e muitas outras. O alcatrão contém elementos potencialmente carcinogênicos.


TABAGISMO PASSIVO 
Se relaciona principalmente com o tempo de exposição à fumaça. Pode desencadear processos alérgicos (hipersensibilidade), patologias respiratórias e outros malefícios a quem inala a fumaça do cigarro.

TABAGISMO NA GRAVIDEZ 
Responsável por interferir no desenvolvimento fetal. Hábitos tabagísticos durante a gestação podem acarretar em malformações estruturais (redução do tamanho e do peso, teratogenia) e neurológicas no feto e futuramente, cognitivas, comportamentais e intelectuais na criança. A mãe e o bebê podem sofrer com o parto prematuro.



A nicotina pode estar presente na constituição do leite materno da lactante a 0,5 mg/L.

O TRATAMENTO

Cessação dos hábitos tabágicos de forma abrupta (mais recomendada) ou gradual, combinada com as terapias abaixo:

Farmacológico Nicotínico ou Tratamento de Reposição Nicotínica, o TRN
É realizado com reposição de nicotina através do adesivo transdérmico (doses de 21, 14 e 7 mg, de acordo com o esquema terapêutico adotado), da pastilha e da goma (doses de 2 ou 4 mg).

Farmacológico Não Nicotínico
Uso de medicações como bupropiona, clonidina e nortriptilina.

Terapia Grupal Por meio de técnicas de grupo, que são empregadas em sessões mensais ao longo de um ano. É realizada de acordo com o Consenso do INCA. Ver mais nos links úteis.


BENEFÍCIOS AO PARAR DE FUMAR



Referências
FOCCHI, G. R. A.; MALBERGIER, A.; FERREIRA, M. P. Tabagismo: Dos Fundamentos ao Tratamento. São Paulo: Lemos Editorial, 2006.

GIGLIOTTI, A. P.; PRESMAN, S. Atualização no Tratamento do Tabagismo. Rio de Janeiro: ABP Saúde, 2006.

MACHADO, F. L.; et al. Tabaco. In: Tratamento da Dependência de Crack, Álcool e Outras Drogas: Aperfeiçoamento para Profissionais de Saúde e Assistência Social. Brasília: SENAD, 2012.

Links Úteis:
Portal do INCA (Instituto Nacional do Câncer)
http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/inca/portal/home

Programa Nacional de Controle do Tabagismo
http://www.inca.gov.br/tabagismo/

Livro em PDF: "Nicotina: A Droga Universal" de José Rosemberg
http://www.inca.gov.br/tabagismo/publicacoes/nicotina.pdf

Dados e Números sobre Tabagismo
http://www1.inca.gov.br/tabagismo/frameset.asp?item=dadosnum&link=mundo.htm

Biblioteca Virtual em Saúde (BVS)
http://regional.bvsalud.org/php/index.php

Pedro Henrique Costa dos Santos, acadêmico de Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), monitor do Programa de Atenção ao Tabagismo do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes - PAT/HUCAM, membro da equipe técnica do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e outras Drogas e aluno de iniciação científica.