terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Debate: Argumentação, Retórica e Falácias Comuns

Depois de um certo período sem fazer postagens, devido ao pouco tempo que tenho disponível, resolvi abordar esse tema amplo e vasto, porém muito útil em nosso cotidiano. O debate é a ferramenta mais importante utilizada no confronto de ideias, que serve para formar opinião a respeito de determinado assunto com certa relevância.



No que consiste o debate? Obviamente, na exposição de dois pontos de vista diferentes, com argumentos plausíveis e que se opõem. Muitas vezes argumentos podem convergir, outras vezes não. Debates formais empregam certas regras, que devem ser obedecidas à risca. Mesmo não debatendo formalmente, todos os dias utilizamos esse recurso, direta ou indiretamente. Debater é chocar ideias.

A argumentação se baseia em constatações feitas a partir do ponto de vista do debatedor. É possível utilizar recursos de linguística e de oratória.


RETÓRICA




Retórica (do grego rhetoriké; do latim rhetorica), essencialmente, se trata de eloquência. Falar bem e saber utilizar as palavras da melhor forma, em todos os aspectos, são elementos importantes para se ter uma boa retórica. Falar retoricamente é lançar mão de recursos, como por exemplo, figuras de linguagem e de estilo.

As figuras de linguagem mais utilizadas, a saber, são:

Metáfora É quando se substitui certos termos por outros, equivalentes em significado conotativo.

Metonímia Substituição de termos por outros com relação de proximidade (por exemplo, substituir o todo por uma parte ou "justificar os fins pelos meios").

Comparação Representa o próprio confronto de ideias, no caso, palavras ou termos empregados em uma argumentação. Comparar é estabelecer relação de semelhança, em outros termos.

Gradação Demonstra progressão de ideias, uma transição gradual e constante.

Eufemismo Consiste na suavização de expressões, substituindo linguagem chula, popular ou muito enfática por expressões mais adequadas ao contexto ou à situação.

Oxímoro ou Paradoxo Combinação entre palavras antagônicas, contraditórias ou não relacionadas de forma lógica.


Esses foram alguns exemplos de elementos presentes na fala retórica. Por outro lado, temos elementos "viciados", podemos assim dizer. São as falácias, que podem comprometer toda a estrutura lógica de um debate, fazendo-a até mesmo ruir.


FALÁCIAS: É quase impossível usar alguma falácia deliberadamente, porém, algumas pessoas já se encarregam de utilizá-las. Quando empregadas no meio de um debate, podem confundir os argumentos "reais" e conduzir o debate ao erro. Existe um conceito denominado sofisma, que representa uma condução capciosa e indesejada, usada de forma a eliminar quaisquer chances que existam em favor do oponente. Esse termo se aplica ao contexto das falácias.





Aqui destaco algumas muito comuns:

Argumentum ad Hominem Esse é o famoso ad hominem, que consiste no ataque pessoal e direto ao oponente, sem se ater ao argumento propriamente dito. É uma estratégia inútil, visto que, atacar o argumentador não diminui a veracidade do argumento proferido por este último.

Argumentum ad Nauseam Consiste na argumentação repetitiva e insistente. "Uma mentira repetida mil vezes não se torna uma verdade" é uma máxima que ilustra essa falácia.


Argumentum ad Baculum ou Apelo à força Aplicado em casos onde o argumentador lança mão de ameaças, mais especificamente, para dissuadir o oponente. Nem é preciso dizer que é ineficaz.

Argumentum ad Novitatem e Antiquitatem Apenas empregados quando se refere a tempo. Se aplicam quando se diz que algo é melhor, mais apurado ou fidedigno por ser novidade ou antiguidade. Usado em debates que envolvem tecnologia, literatura ou até mesmo política.


Argumentum ad Misericordiam Também chamado de Apelo à emoção ou à misericórdia onde se apela para o lado emocional do oponente para dissuadi-lo de seu posicionamento. É um dos mais fajutos argumentos, onde se recorre às emoções quando não há mais argumentos lógicos disponíveis.


Argumentum ad Populum ou Apelo ao povo Usado quando se afirma um determinado ponto de vista apenas pelo fato de este ser um consenso popular, aceito pela maioria das pessoas, mesmo que não seja verídico. Especialmente comum em debates políticos, mas pode ser encontrado em outros tipos de argumentação.

Argumentum ad Ignorantiam Encontrado em debates onde um dos oponentes conclui apressadamente que um argumento é verdadeiro por não ter sido provado falso, ou vice-versa.

Argumentum ad Verecundiam ou Apelo à autoridade Muito comum em debates onde um dos oponentes lança mão de argumentos ditos por alguém influente (na sociedade, na mídia) apenas pelo fato de ter sido dito por esse alguém, mesmo que não seja consistente ou plausível.

Falsa Dicotomia ou Falso Dilema Se aplica quando se propõem apenas duas assertivas como sendo únicas, mesmo havendo outras. No caso, é encontrada em casos onde o argumentador insiste em dizer que só há "bem x mal", "bom x ruim", "útil x inútil", por exemplo.

Falsa Analogia Vista em casos onde se compara dois elementos que parecem ser correlatos, conotativamente, mas que na verdade não são. Acontece quando se faz analogia com os termos inadequados, por assim dizer.

Non Sequitur Visto como argumento em casos onde os fatos não possuem sequência lógica. Ocorre quando se liga dois fatos totalmente desconexos e os une como se estivessem logicamente justapostos.

Generalizações: Não-Qualificada Se faz uma generalização que, por observação dos fatos, se torna inconclusiva e que se encerra em um equívoco. Apressada Quando o argumento se baseia em uma afirmação que inclui elementos incongruentes entre si num mesmo conjunto. Consiste em julgar o todo sem considerar particularidades individuais ("Toda regra tem sua exceção").

Inversão do Ônus da Prova É quando o argumentador se isenta da obrigação de provar determinada afirmação e força automaticamente o oponente a comprovar sua discordância. Toda e qualquer afirmação deve ser sustentada após ter sido dita, para que seja considerada válida.

Bola de Neve, Derrapagem ou Declive Escorregadio Presente em debates onde um dos oponentes se propõe a dar sequência temporal a fatos que podem não dar origem ao resultado previsto (como uma "previsão do tempo mal calculada", onde supõe-se que acontecerá uma chuva de granizo apenas por se ver uma nuvem escura ao longe).

Deus das Lacunas Empregada em um contexto religioso, onde se aplica deus como explicação para algo que ainda é inconclusivo. Se não há explicação lógica, científica ou racional, inclui-se deus. Normalmente vista em debates de Ciência x Religião (Termo para busca: Complexidade Irredutível).

Falácia do Espantalho Ocorre em casos onde a argumentação do oponente é fraca e não é a verdadeira, sendo usada como subterfúgio para ocultar o verdadeiro argumento. O nome advém do fato de que, em épocas passadas, bonecos de palha eram utilizados como treino para combates, "simulando" um adversário.


Existem falácias aos montes, porém destaquei algumas que possuem certa relevância para o cotidiano.

Espero ter sido conclusivo nesse longo texto. Abarquei assuntos que fazem parte do contexto dos debates: De figuras de linguagem a falácias clássicas. Para maiores esclarecimentos, recomendo o seguinte link (http://www.pucrs.br/gpt/falacias.php), que consiste em um guia textual explicativo, sobre como é possível evitar falácias comuns e "desarmar" argumentos inconsistentes.

Muito obrigado e um abraço!

4 comentários:

  1. Muito bom (: . Queria que todos soubessem pelo menos o básico da argumentação, minha paciência seria maior.

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    1. Por isso devemos divulgar sempre, Matheus. Informar as pessoas sobre como debater de forma saudável e com honestidade intelectual é muito importante!

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  2. Uma coisa interessante do argumento ad hominem é a variedade de categorias, que também vale a pena citar:
    O ad hominem clássico, como está na descrição no texto, que é atacar pessoalmente o autor; o ad hominem circunstancial, que é apontar motivos de suposto interesse próprio para um indivíduo depender determinada posição; e o "tu quorque", ou "você também": "você diz que fumar faz mal, mas também fuma".

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    1. Muito bem lembrado, Eduardo. Especialmente o tu quoque, a boa e velha hipocrisia. Mas acabou se esquecendo de um: Reductio ad Hitlerum. Esse consiste na comparação com o nazismo, chamando o oponente de "ditador", "fascista", dentre outros impropérios.

      Abraço e obrigado pelo comentário.

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