quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Saúde Mental e os Transtornos da Mente


Resolvi fazer um post no meio da semana. O tema Saúde Mental muito me interessa e é algo importante a ser discutido, fazendo parte do grupo das chamadas Neurociências. Até peguei dois livros emprestados com minha professora, enfermeira doutora Marluce Miguel de Siqueira, que é especialista no assunto. Seguindo seus passos, devo dizer que os transtornos mentais ainda são um tabu na sociedade em que vivemos. Os diversos estereótipos e rótulos aplicados a pessoas que possuem tais problemas são estigmas para o resto da vida: "louco", "pirado", "doido varrido", "lelé da cuca". Não é só de loucura que sofrem os transtornados, mas de vários outros problemas que necessitam de suporte adequado.

A história nos mostra como essas pessoas sofriam com o tratamento desumano destinado a elas, internadas em hospitais psiquiátricos. No Brasil ocorreu a Reforma Psiquiátrica, a partir da década de 1970, que criticava o modelo hospitalocêntrico vigente. O lema adotado na época era: "Por uma sociedade sem manicômios". Pessoas que sofriam com algum tipo de transtorno mental, eram dopadas, acorrentadas, submetidas a sessões de eletrochoque e eram até mesmo lobotomizadas (tinham um dos lobos cerebrais removidos cirurgicamente). Um filme belíssimo que indico e que retrata a de forma visceral a questão é Um Estranho no Ninho, com Jack Nicholson. Recomendo muito.

Isolamento, agressão, sofrimento

É preciso rever certos conceitos a respeito dos transtornos mentais. É preciso estender a mão para quem sofre com tais problemas. Cuidar dignamente e não se esquecer de que continuam sendo seres humanos são os segredos para amenizar a angústia envolvida, tanto para o indivíduo quanto para sua família. Outras ferramentas ao longo das décadas foram sendo aprimoradas, como por exemplo a desinstitucionalização, um processo que viabilizaria o atendimento de forma mais ampla e digna, reduzindo o número de leitos e internações. O acesso ao atendimento viria a ser ampliado mais tarde, com o surgimento dos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). Surgia então uma nova visão acerca dos transtornos mentais.

Quais são os principais transtornos mentais?
O próximo passo é explicar brevemente sobre cada um dos transtornos mais comuns dentre as pessoas.


DEPRESSÃO


Depressão não é um transtorno propriamente dito, mas um estado e é marcadamente uma das questões mais recorrentes na sociedade. A tristeza profunda, de natureza patológica, desencadeia diversos outros problemas. A tentativa de suicídio é uma consequência grave relacionada à depressão, que deve ser investigada e policiada, de forma a ajudar a pessoa que passa por esse problema. A ideação suicida ocorre em muitos casos, sendo de extrema importância impedir que o fato seja consumado. Depressão requer tratamento não só medicamentoso, mas social. Estimular o indivíduo que sofre com baixa auto-estima e oferecer alternativas para encarar os problemas do cotidiano é a forma mais eficaz de solucionar a questão. Muitas vezes não é preciso recorrer a fármacos, sendo apenas eficaz o suporte familiar e de amigos. Outros fatores associados são a Anedonia (falta de prazer nas atividades diárias), os transtornos alimentares e do sono, o desânimo e a falta de perspectiva de futuro.

É muito comum em adolescentes e jovens adultos, por conta da puberdade, da necessidade do jovem de se inserir em um grupo social (gerando rejeição, solidão e reclusão) e de se inserir no mercado de trabalho. As pressões colocadas em cima do jovem e as cobranças por parte do contexto em que ele se insere o fazem se sentir inseguro, despreparado e frágil perante os problemas da vida. Momentos como esse propiciam o surgimento da ideação suicida, por ser o "último recurso" encontrado como forma de oferecer um alívio ou um escapismo. Depressão também surge em adultos com baixa auto-estima, por não conseguirem um emprego e estarem desempregados, estarem enfrentando uma crise financeira, conjugal ou algo semelhante. Surge em idosos, que já não possuem expectativa de vida tão alta ou sofrem de doenças graves ou degenerativas. Nesse último grupo, o abandono, os maus-tratos e isolamento do contexto familiar (mudança para casas de longa permanência, também conhecidas como asilos) são fatores preponderantes para o surgimento da depressão.

Um apoio oferecido a pessoas nesse tipo de situação é dado pelo CVV, o Centro de Valorização da Vida (http://www.cvv.org.br/).


ESTRESSE E SÍNDROME DE BURNOUT (ESGOTAMENTO)


O estresse é um fenômeno contemporâneo, característico dos grandes centros urbanos. Pessoas vivendo com pressa, cheias de compromissos, workaholics inveterados. A Síndrome de Burnout está diretamente associada, levando pessoas ao colapso iminente. Existem muitas alternativas para se evitar a crise, seja reduzindo jornadas de trabalho ou promovendo estilos de vida mais amenos e flexíveis, longe dos grandes centros. O aumento do risco para doenças cardiovasculares, a redução da qualidade de vida e a consequente redução da expectativa de vida são questões que devem ser levadas a sério. Normalmente, também se inclui o uso de substâncias psicoativas (postarei algo sobre o assunto em breve), péssimos hábitos alimentares, vícios e uma rotina inflexível como sendo agentes estressores. O Burnout é um evento extremo, que pode levar pessoas a cometerem atos que ponham em risco a própria vida e a vida de outros. Constitui-se em agressividade, comportamento suicida e até mesmo homicida.


ANSIEDADE E AGITAÇÃO

A ansiedade também se manifesta de maneira parecida, levando pessoas à loucura quase que literalmente. Indivíduos ansiosos não conseguem manter a atenção e o foco em determinados assuntos, não podem desenvolver suas atividades rotineiras normalmente. Insônia, inquietude, confusão mental, tensão muscular, alterações respiratórias e cardíacas são característicos de pessoas ansiosas e agitadas. Dois elementos associados podem ser o Transtorno de Aprendizagem e o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou Transtorno Hipercinético. Diferentemente do estresse, que acomete geralmente adultos da população economicamente ativa, a ansiedade causada por outros fatores pode surgir ainda na infância, necessitando de intervenção pedagógica, psicológica e terapêutica.


TRANSTORNO BIPOLAR, MANIA E TRANSTORNO DE PERSONALIDADE LIMÍTROFE


Resolvi englobar esses vários transtornos em um só tópico pois todos eles giram em torno de um único fator: o Humor. A bipolaridade consiste em picos de depressão alternados com picos de mania. O indivíduo normalmente tende a emergir de uma crise depressiva imediatamente para um acesso de fúria e excitação incontroláveis. Uma pessoa com transtorno bipolar pode estar calma em certo momento, mas pode atingir o ápice de uma personalidade avessa. Não temer limites, ser contra regras ou abusar de reações extravagantes é típico de pessoas com mania, no caso da bipolaridade. Dificilmente a pessoa poderá ser maníaca somente, é mais comum ser bipolar. É possível identificar alguém em mania quando fala sem pausas, fica várias noites sem dormir, tem sensação de grandeza, a auto-estima muito elevada ou é fugaz em excesso.

Já a personalidade limítrofe ou Borderline tem como característica exclusiva a perturbação, levando o indivíduo a procurar o atendimento de emergência psiquiátrica. O indivíduo limítrofe expressa comportamento autodestrutivo, rejeitando qualquer tipo de apoio externo, em certos casos. O comportamento borderline é exatamente o que o termo denota: viver sempre no limite. Beira a psicose em determinados indivíduos, levando a consequências irremediáveis. Pode estar presente o abuso de substâncias químicas.


ESQUIZOFRENIA



Esse é um tema específico e muito característico dos transtornos mentais. Sem dúvida, possui um enfoque muito grande, dadas as consequências envolvidas. O histórico ao qual me referi remete à esquizofrenia, que sempre foi tratada como algo abominável. Pacientes psiquiátricos eram submetidos aos piores tratamentos, eram espancados e torturados. Juntamente com a epilepsia, é um dos mais recorrentes problemas psiquiátricos. O esquizofrênico necessita de atenção e precisa de um ambiente adequado para ser cuidado. As pessoas devem ter em mente que o indivíduo que sofre de esquizofrenia vai apresentar um comportamento alterado, excessivo e muitas vezes agressivo.

Ocorrem alucinações, delírios, ilusões e tantos outros tipos de evento, com reações diversas. A perturbação é comum, sendo o paciente capaz de visualizar situações fantásticas ou extravagantes. A confusão mental é grande, a ponto de se ter sensações reais (ouve vozes imperativas, vê objetos, pessoas e fantasia situações de ameaça). A despersonalização ocorre em vários casos. O cérebro de um esquizofrênico está em constante dificuldade para diferenciar verdade de ilusão. A intervenção  farmacológica é essencial, mas só é efetiva de fato se a família estiver presente para apoiar o paciente.


TRANSTORNO DO PÂNICO



O indivíduo que sofre de pânico, também chamado de panicado, é alguém que teme o perigo iminente e se afasta de toda e qualquer situação que o possa colocar em risco, tanto da integridade física quanto de morte. Um fator associado é a agorafobia, que será descrita logo em seguida. Pessoas que sofrem com o transtorno do pânico vivem em constante agonia e com ansiedade excessiva. Apresentam dificuldades de se relacionar em locais públicos (é exatamente a agorafobia). Algo muito comum é a despersonalização, quando o indivíduo perde totalmente o senso de estabilidade psicológica e de identidade pessoal. O medo é algo recorrente. São propensos a terem ataques cardíacos (por conta da taquicardia) e ficarem com a respiração dificultada (falta de ar, ou dispneia). Ocorrem tremores, sensações de ondas de calor, desconforto físico e há sudorese exagerada. A velha dupla de "luta ou fuga" está em constante atividade. É muito comum em mulheres, mais do que em homens. 


FOBIAS

Fobias são a manifestação de medo ou aversão doentia a determinados elementos. Podem desencadear transtornos mentais graves, caso não seja iniciada a terapia adequada. Não é "frescura" e pode ter um fundo patológico. Pessoas podem ter a rotina comprometida por conta de tais medos. Confira a seguir alguns dos tipos mais frequentes de fobia:

AGORAFOBIA (medo de estar em locais públicos e espaços abertos)



Como dito no tópico sobre transtorno do pânico, são correlatos. O termo deriva do grego "ágora", que diz respeito aos locais públicos onde a população se reunia para discutir assuntos relevantes. Há relatos de pessoas que passaram anos seguidos sem sair de casa, temendo o contato com o ambiente externo. Agorafóbicos podem ficar longos períodos terem contato com outras pessoas, preferindo se isolar dentro de seus domicílios. Normalmente se sentem sufocados em multidões ou aglomerações.

CLAUSTROFOBIA (medo de estar em locais fechados)


Ao contrário do que acontece com a agorafobia, a claustrofobia acomete pessoas que não conseguem ficar presas em elevadores ou em quartos fechados. As sensações são as mesmas para a anterior (ondas de calor, sudorese excessiva, enurese, ansiedade, taquicardia, etc.), porém relacionadas ao espaço pequeno, fechado e/ou escuro. Ocorre em pessoas que foram submetidas à clausura ou a algum tipo de reclusão punitiva. 

COULROFOBIA (medo de palhaços)


Extremamente comum em crianças pequenas, decorrente de experiências traumáticas com palhaços. A criança muitas vezes não sabe identificar o palhaço como sendo uma pessoa maquiada e fantasiada (normalmente as mais pequenas). A fotografia acima retrata Pennywise, personagem literário e posteriormente cinematográfico criado por Stephen King (o livro onde este surge é It - A Coisa), para representar de forma perturbadora a figura de um palhaço assassino. Pennywise é uma criatura que muda de formas, normalmente sendo identificado como um palhaço. Se alimenta de medos e aterroriza crianças, simbolizando exatamente a referida fobia.

ARACNOFOBIA (aversão a aracnídeos, especialmente aranhas)


Fobia muito comum, especialmente em mulheres. As aranhas, mais especificamente as tarântulas, causam terror apenas por estarem próximas das pessoas fóbicas. Por conta da divulgação de notícias retratando acidentes domésticos com tais aranhas, o medo se espalhou na cultura popular e entre as pessoas. O animal não causa tantos problemas pela picada, pois o veneno não é tão perigoso. Mas de qualquer forma, se ocorrer uma picada ou algum contato brusco com o animal, devem ser feitos os primeiros socorros e a busca por atendimento deve ser imediata.

AICMOFOBIA (medo de agulhas)


Aicmofóbicos temem agulhas, por terem tido algum tipo de experiência desagradável envolvendo medicações, vacinas ou coletas de sangue. Pode ser causado pelo profissional que administrou a injeção, sendo a forma mais comum de gerar o trauma. É preciso intervir nesse tipo de trauma, pois a via mais utilizada para se medicar alguém é a endovenosa ou a intramuscular.

Bem, espero não ter me delongado demais. É um assunto vasto e muito peculiar, digno de discussões.
Abordei alguns aspectos comuns e importantes.

Texto sobre a Reforma Psiquiátrica: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Relatorio15_anos_Caracas.pdf

Livros utilizados como referência:
Depressão e Transtornos Mentais: Tudo o que você deve e precisa saber. Paulo Miguel Velasco. 2. ed. Wak Editora. 2009;
Medicina Psiquiátrica de Emergência. Harold I. Kaplan; Benjamin J. Sadock & Colaboradores. Artes Médicas. 1995.

Obrigado, um abraço.

Nenhum comentário:

Postar um comentário